quarta-feira, 16 de março de 2011

Besouro Mangangá

Besouro Mangangá
A palavra capoeirista assombrava homens e mulheres, mas o velho escravo Tio Alípio nutria grande admiração pelo filho de João Grosso e Maria Haifa. Era o menino Manuel Henrique que, desde cedo aprendeu, com o Mestre Alípio, os segredos da Capoeira na Rua do Trapiche de Baixo, em Santo Amaro da Purificação, sendo "batizado" como "Besouro Mangangá" por causa da sua flexibilidade e facilidade de desaparecer quando a hora era para tal.
Negro forte e de espírito aventureiro, nunca trabalhou em lugar fixo nem teve profissão definida.
Quando os adversários eram muitos e a vantagem da briga pendia para o outro lado, "Besouro" sempre dava um jeito, desaparecia. A crença de que tinha poderes sobrenaturais veio logo, confirmando por motivo de ter ele sempre que carregar um "patuá". De trem, a cavalo ou a pé, embrenhando-se no matagal, Besouro, dependendo das circunstâncias, saia de Santo Amaro para Maracangalha, ou vice-versa, trabalhando em usinas ou fazendas.
Certa feita, quem conta é o seu primo e aluno Cobrinha Verde, sem trabalho, foi a Usina Colônia (hoje Santa Eliza) em Santo Amaro, conseguindo colocação. Uma semana depois, no dia do pagamento, o patrão, como fazia com os outros empregados, disse-lhe que o salário havia "quebrado" para São Caetano. Isto é: não pagaria coisa alguma. Quem se atrevesse a contestar era surrado e amarrado num tronco durante 24 horas. Besouro, entretanto, esperou que o empregador lhe chamasse e quando o homem repetiu a célebre frase, foi segurado pelo cavanhaque e forçado a pagar, depois de tremenda surra.
Misto de vingador e desordeiro, Besouro não gostava de policiais e sempre se envolvia em complicações com os milicianos e não era raro tomava-lhes as armas, conduzindo-os até o quartel. Certa feita obrigou um soldado a beber grande quantidade de cachaça. O fato registrou-se no Largo de Santa Cruz, um dos principais de Santo Amaro. O militar dirigiu-se posteriormente à caserna, comunicando o ocorrido ao comandante do destacamento, Cabo José Costa, que incontinente designou 10 praças para conduzir o homem preso morto ou vivo.
Pressentindo a aproximação dos policiais, Besouro recuou do bar e, encostando-se na cruz existente no largo, abriu os braços e disse que não se entregava. Ouviu-se violenta fuzilaria, ficando ele estendido no chão. O cabo José chegou-se e afirmou que o capoeirista estava morto. Besouro então ergueu-se, mandou que o comandante levantasse as mãos, ordenou que todos os soldados fossem e cantou os seguintes versos:
Lá atiraram na cruz/ eu de mim não sei/ se acaso fui eu mesmo/ ela mesmo me perdoe/ Besouro caiu no chão fez que estava deitado/ A polícia/ ele atirou no soldado/ vão brigar com caranguejos/ que é bicho que não tem sangue/ Polícia se briga/ vamos prá dentro do mangue.
As brigas eram sucessivas e por muitas vezes Besouro tomou partido dos fracos contra os propritários de fazendas, engenhos e policiais. Empregando-se na Fazenda do Dr. Zeca, pai de um rapaz conhecido por Memeu, Besouro foi com ele às vias de fato, sendo então marcado para morrer.
Homem influente, o Dr. Zeca mandou pelo próprio Besouro, que Matilde não sabia ler nem escrever, uma carta para um seu amigo, administrador da Usina Maracangalha, para que liquidasse o portador. O destinatário com rara frieza mandou que Besouro esperasse a resposta no dia seguinte. Pela manhã, logo cedo, foi buscar a resposta, sendo então cercado por cerca de 40 soldados, que incontinente fizeram fogo, sem contudo atingir o alvo. Um homem entretanto, conhecido por Eusébio de Quibaca, quando notou que Besouro tentava afastar-se gingando o corpo, chegou-se sorrateiramente e desferiu-lhe violento golpe com uma faca de ticum.
Manuel Henrique, o Besouro Mangangá, morreu jovem, com 27 anos, em 1924, restando ainda dois dos seus alunosL Rafael Alves França, Mestre Cobrinha Verde e Siri de Mangue.
Hoje, Besouro é símbolo da Capoeira em todo o território baiano, sobretudo pela sua bravura e lealdade com que sempre comportou com relação aos fracos e perseguidos pelos fazendeiros e policiais.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Mestre Bimba (1900-1974)


Mestre Bimba (1900-1974)

Manuel dos Reis Machado nasceu no dia 23 de novembro de 1900, no bairro Engenho Velho, Freguesia de Brotas, Salvador, Bahia.

O apelido ele ganhou logo ao nascer de uma aposta feita entre sua me, Maria Martinha do Bonfim e a parteira que o aparou.

Seu pai, Lus Cndido Machado, era conhecido como um grande batuqueiro, campeo de batuque.

Iniciou-se na capoeira aos 12 anos de idade, seu mestre foi o africano Bentinho, capito da Companhia de Navegao Baiana.

Aos 18 anos comea a dar aulas no bairro onde nasceu. Como ele mesmo dizia:

Em 1918 no havia escola de capoeira, havia sim rodas de capoeira, nas esquinas, nos armazns e no meio do mato.

Em 1928 achando que a capoeira que ele praticava e ensinava era pouco competitiva, e que deixava a desejar em termos de luta, juntou golpes de batuque capoeira de angola e criou a capoeira regional.

Fiz a capoeira regional. Enquanto estudava e praticava a de angola fui inventando e aperfeioando novos golpes.

Em 1928 eu criei, completa, a regional que o batuque misturado com a angola, com mais golpes, uma verdadeira luta, boa para o corpo e para a mente.

A capoeira regional criada por Mestre Bimba foi motivo de muita polmica entre os outros capoeiristas que no concordavam com sua radical mudana. Por outro lado, os jornais e revistas da poca no cansavam de noticiar suas proezas. A fama de Bimba e da capoeira regional se propaga pelo Brasil.

Em 1932, fundou sua primeira academia especializada com o nome de Centro de Cultura Fsica e Regional. Cinco anos depois, em 1937, era reconhecida e registrada oficialmente pelo governo. Em 1939, Bimba ensina capoeira regional no quartel do CPOR. Instalou sua segunda academia em 1942.

Bimba leva a capoeira em exibies por todo o pas e em 23 de julho de 1953 apresenta-se para o ento presidente Getlio Vargas, no palcio da Aclamao em Salvador. Ao apertar-lhe a mo o Presidente disse:



A capoeira o nico esporte verdadeiramente nacional.

Foi depois desta apresentao que Getlio Vargas liberou as manifestaes populares at ento perseguidas e, com isso, beneficiou a capoeira que deixou de ser proibida pela polcia.

Casado e pai de 10 filhos, Bimba enfrentava problemas financeiros. Assim, acreditando em promessas de maior reconhecimento e de uma vida melhor, Mestre Bimba deixa Salvador e parte para Goinia.

Porm sua vida em Goinia no foi como lhe haviam prometido. Um ano depois de deixar a Bahia, no dia 05 de fevereiro de 1974, morre Mestre Bimba.

O homem que elevou a capoeira de status, que a tirou de baixo do p do boi, como gostava de dizer, e a introduziu nos meios universitrios e sociais de Salvador, que foi citado em enciclopdias e filmado por turistas do mundo todo.

Sepultado em Goinia, seus restos mortais foram transladados para Salvador em 20 de julho de 1978.


Bimba se foi mas deixou sua majestosa, inigualvel obra, a qual, como ele, tornaram-se imortais, deixando sua filosofia e sua fora de fazer uma capoeira forte e insupervel, uma capoeira autntica, digna de ser chamada Capoeira Regional, a arte marcial brasileira.

Algumas criaes de Mestre Bimba:

. Criou a capoeira regional, na poca consistia de 52 golpes.

. Criou um mtodo de ensino, a chamada seqncia de Bimba que consiste em 8 seqncias de ataque e defesa para serem executados na roda.

. Criou a seqncia de cintura desprezada, que uma srie de bales cinturados, que os alunos s podiam jogar depois de formados, ao toque de iuna.

. Criou o batizado de capoeira, um ritual onde o aluno iniciado na capoeira recebendo um apelido e sua primeira graduao.

. Criou a graduao na capoeira, que consistia em 4 lenos de esguio de seda:

1 leno cor azul aluno formado

2 leno cor vermelho aluno formado e especializado

3 leno cor amarelo curso de armas

4 leno cor branco mestre de capoeira

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

N' Golo ou Dança da Zebra.

N'Golo ou Dança da Zebra

A Dança da zebra ou N'Golo de origem do povo "Mucope" do sul da Angola, que ocorria durante a "Efundula" (festa da puberdade), onde os adolescentes formam uma roda; com uma dupla ao cetro desferindo coices e cabeçadas um no outro, até que um era derrubado no solo, essa luta é oriunda das observações dos negros, dos machos das zebras nas disputas das fêmeas, no período do cio, onde os machos lutam com mordidas, cabeçadas e coices. Com a "revolta dos Malês", na Bahia, formada pelos Negros Malês em 25 de fevereiro de 1835 que foi reprimida pelos Portugueses, que castigaram mutilando os lideres, e enviou um navio para África e outro dos rebeldes para a América Central. Em Cuba e Martinica os males fundiram com a dos navios e negros dos canaviais dando origem ao "Mani", em cuba e "Ladva", em Martinica. O N'Golo levado pelos angolanos para palmares fundiu-se com a Maraná surgindo a Capoeira. Fomos missionários na Angola junto ao povo Mucope onde tivemos o privilégio de assistir uma dessas manifestações culturais, a "dança do N'Golo", e não tem nenhuma aparência com a Capoeira chamada Angola.
Cartas do Jesuíta Antonio Gonçalves para os superiores de Lisboa, em 1735, descreve um luta que os índios praticavam antes de qualquer conflito, em forma de roda dois a dois usando os braços, pernas, cotoveladas, joelhadas, e usando todo corpo como armas (convento de Santo Inácio de Loyola, anais das missões no Brasil. Tomo III pág. 128)
O escrito Holandês Gaspar Barleus descreve no livro "Rerum Per Octenium in Brasília-1647, a luta dos índios tupis praticada no litoral brasileiro" chamado de maraná, luta de guerra, só existem dois exemplares, um no EUA e outro no Brasil.
O cronista alemão Johann Nieuhoff descreve em seu livro "Crônicas do Brasil Holandês" 1670, a luta do maraná assim com descreve em baixo:

Maraná a Dança da Guerra

As cartas do escrivão Francis Patris, que acompanhava o cortejo do príncipe Mauricio de Nassau durante a invasão Holandesa, descreve entre muitos obstáculos para a ocupação do território brasileiro a resistência dos Habitantes do Brasil.
Negros comandados por Henrique Dias, portugueses por Vidal de Negreiros, Índios Potiguares comandados por Felipe Camarão, o "Ìndio Poti". Esses índios usavam durante o confronto, alem de flechas borduna, lanças e tacapes, os pés e as mãos desferindo golpes mortais, destacando-se por sua valentia e ferocidade.
Pertencia a cultura potiguara a dança e guerra Maraná, que avaliava o nível de valentia. Em círculos, os guerreiros com perneiras de conchas compunham um compasso ao bater com os pés e as mãos, invocando seus antepassados, acompanhado de atabaques de troncos com pele de Anta, chocalhos e marimbas, em quanto que dois guerreiros se confrontavam ao centro com golpes de pernas, cotoveladas e movimentos que imitavam os animais.

Quilombo dos Palmares

A maior resistência socioeconômica e política da história do Brasil, quase cem anos lutando pelo direito á vida e á liberdade, na Serra da Barriga, em Pernambuco hoje Estado da Alagoas. Em 1650, um grupo de escravos se
rebelou no engenho de Pianco, Capitania de Pernambuco, liderada pelo Príncipe Negro Angolano "Zumba" que os conduziu para o Alto da Serra da Barriga, onde ficava a aldeia de nação Potiguar "Palmares", liderada pelo cacique Canindé e a Xamã Akutirene. A velha feiticeira previu que o certo dia surgiria de grande rio um grande Rei que imortalizaria Palmares. Com sua grande liderança foi eleito Rei "Ganga" de Palmares. Dentro de poucos anos a população negra passou 70%, a dos principais quilombos, que ao todo foram oito (Amaro, Akutirene, Macaco, Aqualtene, Danbraga, Subupira,
Adalaquituxe), 25% de Índios e 5% de Portugueses Brancos foragidos (Mestiços, portugueses, Franceses e Espanhóis). Toda essa miscigenação racial criou uma nova cultura étnica, religiosa, dialeto, capoeira, culinária, relações, culturais onde a terra era patrimônio de todos e as decisões de ganga eram decididas pelo concílio dos anciões Zama, que representava os patriarcas de cada família. Palmares foi a maior republica socialista de América, formava um arco-íres racial do povo Brasileiro (Negros, Mamelucos, Índios, Cafuzos, Sararás, Mulatos e Brancos e etc.) nessa sociedade surgiu à capoeira com a fusão das culturas negras, indígenas e brancas. O negro contribuiu com o N'Golo, a ginga, mandinga, com seus instrumentais, pandeiro quadrado, atabaque Islâmico, agogô e mais tarde o berimbau (urocongo). Os Índios com as marimbas, xererê, atabaque de tronco oco e pele de anta, com movimentos que imitavam os animais.
Ouviu-se falar de capoeira pela primeira vez durante as invasões holandesas, em 1624, quando os índios, e Negros escravos, (as duas primeiras vitimas da colonização). Aproveitando-se da confusão gerada, fugiram para as matas, aumentando o contingente dos Quilombos dos palmares onde o primeiro rei "ganga" Chamava-se Zumba; Salientamos que o primeiro Quilombo registrado foi em
Pernambuco(Cumbi) no ano de 1558.
Em 1678 foi Regis trado a chegada de Ganga Zumba, Rei dos Palmares, ao recife. Onde foi recebido pelo então Governador Souza de Castro; Por várias vazes Ganga-Zumba com seus Guerreiros Maus vestidos chegaram a Recife, convidado pelo Governo de Pernambuco a respeito de muitos Escravos fugirem para Os Quilombos, deixando grandes prejuízos para os Fazendeiros, que precisavam da monocultura Escrava; do acordo firmado entre Zumba e o Governo Constituinte, nada foi cumprido por parte do poder Constituído. Também durante uma dessas visitas Ganga-Zumba foi envenenado Pelos seus Próprios Colaboradores manipulados pelo Governo Pernambucano. Zumbi: Assumindo o comando o Guerreiro Zumbi que quando criança havia sido raptado por Bandeirantes ou Caçadores de Escravos e criado por um Padre em Recife, que aos 15 anos já era coroinha, e aos 25 anos fugiu para os Quilombos dos Palmares ficando no lugar de Ganga-Zumba mais foi morto no dia 20 de Novembro de 1695 pelo perverso Domingos Jorge Velho, a sua cabeça foi colocada em sal e enfiada em um poste na frente da Igreja do Carmo para mostrar a seus seguidores que seu defensor havia sido vencido, hoje existe o monumento do mesmo, e a data de sua morte é comemorada o dia da Consciência Negra, Segundo a Lenda Zumbi era um nato lutador de capoeira. O Reinado de Zumbi Durou 14 anos.
A Capoeira é Considerada a Arte Marcial Brasileira pelo motivo de ser utilizada de muita forma como as Maltas, Guerra do Paraguai, Revoltas dos Mercenários, nas caramussas entre monarquia e republicanos, Guerra das Tabocas, Mascates, Guardas costas de José do Patrocínio e Dom Pedro 1, Canudos, Farrapos, Primeira e segunda Guerra Mundial, ETC...
Bibliografia: Recife Sangrento. Trechos do Livro Inédito sobre História de capoeira no Recife do Século XIX, de Bernardo Alves. Câmara Cascudo. José mariano. José Lins do Rego
É nossa História